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22.10.13

23/10 - Pedro Lemos

SEMÂNTICAS BI-TEMPORAIS E A DEFESA ARISTOTÉLICA DA CONTINGÊNCIA DO FUTURO



Há uma posição atrativa na literatura de que a defesa aristotélica sobre a contingência do futuro, presente no capítulo IX de De Interpretatione, se assenta na permissão de lacunas de verdade (truth-value gaps), alcançada pela quebra do princípio semântico da bivalência, mesmo mantendo a validade irrestrita do princípio lógico do terceiro excluído.
Neste esteio, van Fraassen (1966) e Thomason (1970) apresentaram semânticas com supervalorações que atuam sobre modelos com valorações bivalentes clássicas, permitindo que futuros contingentes apresentem lacunas, o que em tese reflete a intenção inicial de Aristóteles em restringir o princípio de bivalência, mas não o princípio lógico do terceiro excluído, já que nestas semânticas as instâncias do terceiro excluído com futuros contingentes são sempre satisfeitas.
Partindo disto, o seminário terá como intuito explorar três tópicos. Em primeiro lugar, apresentaremos uma semântica de referência bi-temporal, capaz de variar a acessibilidade de acordo com o contexto em que uma sentença sobre o futuro é acessada, de modo que um mesmo contexto de uso é capaz de satisfazer a necessidade e a contingência de uma sentença sobre o futuro. Em segundo lugar, e tendo em tela tal semântica, iremos propor a distinção entre dois níveis semânticos na avaliação de futuros contingentes, o macro-semântico e o micro-semântico.
Por último, iremos sugerir que Aristóteles defende a contingência macro-semântica do futuro, mas não a micro-semântica. Isso explicaria porque Aristóteles defendia a contingência (ou abertura) do futuro, mesmo aceitando tácitamente princípios de cunho determinístico, como o Princípio da Plenitude e da atualização de possiblidades genuínas, que são curiosamente (e perigosamente, para um defensor do Indeterminismo e de Aristóteles) bastante próximos às premissas do mais famoso argumento para o determinismo, o Argumento do Dominador de Diodorus Cronus.


1 van Fraassen, B. (1966): Singular Terms, Truth-Value Gaps, and Free Logic. Journal of Philosophy, Vol.63, No. 17, pp.481-495.

Thomason, R. (1970): Indeterminist Time and Truth-Value Gaps. Theoria, Vol. 36, I. 3, pp.264-281.

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